Audiência pública abre espaço para ouvir os desafios das famílias de pessoas autistas

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Mais desafios que direitos. Essa foi a conclusão que os participantes da audiência pública
“Políticas Públicas Municipais em Atenção aos Autistas” chegaram na noite desta terça-
feira (17), sobre a situação das crianças com autismo e seus familiares. O evento
realizado no plenário da Casa, teve como objetivo discutir o dia a dia vivido pelos pais de
crianças com transtorno do espectro autista (TEA), na busca por um atendimento digno na rede
pública de saúde e educação. Para isso estiveram presentes representantes do governo municipal
como o prefeito, vice-prefeito, secretárias das pasta de Saúde e Educação, vereadores e comunidade
em geral.
O momento contou com troca de informações, experiências e escuta ativa. O autor do
requerimento da audiência, vereador Dr. Lair Bueno falou da importância dessa luta que
considerou ser de toda sociedade. “Na primeira audiência pública dessa legislatura temos a
oportunidade de dar voz às famílias que sofrem junto com seus filhos com bullying, discriminação e
marginalização. Quem convive sabe. É emocionante e gratificante ver essa Casa cheia nesse evento”,
comentou.
Embora a Lei Municipal 3.123/10, que nasceu na Câmara por meio de um projeto de lei do então
vereador William Salim, estabeleça políticas públicas para autistas em Timóteo, a falta de um fluxo de
atendimento adequado para diagnósticos e terapias ainda é um desafio comum em muitos municípios
brasileiros como em Timóteo. ”Não é a toa que o simbolo do autismo é um quebra-cabeça. Não somos
uma Ferrari que podemos ir de zero a 100 em segundos, mas é fato que temos que avançar. E um dos
avanços é incluir as mães também no atendimento prioritário da Saúde Mental da rede pública. Que as
perguntas que as famílias fizeram aqui não fiquem no ar”, enfatizou Lair.
Dentre os questionamentos e sugestões feitos pelos familiares de pessoas com TEA estavam: a falta
de organização das escolas em relação aos acompanhantes; a inclusão da psicomotricidade nas aulas
de educação física; a importância da Escola de Pais; a falta de profissionais de saúde na rede pública
como fono, terapeuta ocupacional, psicólogos, psiquiatras infantis; a ampliação do teste
neuropsicológico nas escolas; a judicalização do uso da cannabis no tratamento; entre outras.
As secretárias de Educação, France-Jane de Araújo - e a de Saúde, Érica da Conceição Ferreira
reafirmaram o compromisso de buscar políticas públicas para melhorar as condições para as crianças
com TEA e suas famílias, visando também o futuro, já que essas crianças vão se tornar adultos com
TEA, outra parte da população que também não tem políticas direcionadas às suas necessidades. A
questão do adulto com TEA, foi pontuada pela presidente da Associação Amor Azul que da suporte às
famílias dos autistas de Timóteo, Elizabeth Arruda. “O número de pessoas com TEA tem aumentado,
incluindo de adultos que estão só agora descobrindo esse diagnóstico, mas essa parcela da população
é isolada de atenção e políticas públicas. Temos que pensar que uma criança autista vai ser um adulto
autista e para ele no futuro não em nada direcionado”, alertou Elizabeth.
Para ampliar a legislação em favor dessa parcela da população, tramita na Câmara o projeto de lei
4635 de autoria do Executivo Municipal, que dispõe sobre a criação do Centro Integrado de
Atendimento à Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIATEA). A matéria está na pauta da
próxima reunião de comissões que acontecerá nessa quinta-feira (27).
Experiências
O prefeito de Timóteo, Capitão Vitor trouxe experiências pessoais e profissionais para
contribuir com a causa do público presente. “Eu tenho dois filhos com transtornos. Na PM
onde trabalhei muitos anos, tinham vários casos. Um amigo que tinha um filho com
autismo severo chorava muito na minha sala porque o filho não deixava abraçá-lo, por ser
arisco à contato físico. Nessa época me veio indagações do tipo “quantos pais sofrem
assim, o que podemos fazer para ajudar”? Esse tema trazido nessa audiência pelas
famílias, logo no início do ano, vai ser levado a sério e vamos fazer o dever de gestão
quanto à isso”, disse o prefeito.
Convidado por atuar na causa, o vereador de Ipatinga, Daniel do Bem também colaborou com a
discussão trazendo relatos de suas dificuldades como pai de um filho autista e do engajamento em
projetos no Legislativo de Ipatinga. “Eu custei a conseguir que meu filho me abraçasse, foi um trabalho
de muita paciência e amor. Nós podemos ajudar a mudar a situação de desafios em casa e na
sociedade. Por isso é muito importante a participação das famílias nos eventos que lutam por essa
causa. Precisamos urgente das rotinas de terapias e consultas especializadas para nossas crianças
autistas ter saúde plena agora e quando adultos”, observou Daniel.
TEA
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento que não apresenta
características físicas visíveis, o que dificulta a conscientização e compreensão social das dificuldades
enfrentadas por pessoas autistas no dia a dia. Mães dessas crianças enfrentam dois desafios
recorrentes: a falta de profissionais da educação capacitados para lidar com alunos autistas em sala
de aula e a escassez de serviços de saúde adequados para atender às necessidades terapêuticas
dessas crianças e adolescentes.